O conteúdo

Na página inicial, a cada semana, traremos um novo conteúdo.
Os artigos antigos serão arquivados nos tópicos listados acima da página. (Ao lado do início, sendo Literatura, Política e Religião)

Não deixe de conferir.

Literatura

ENCARCERADO

 
Liberdade .... sonho eterno de todo vivente .. 
Poder sonhar, lutar por seus ideais, Por mais estranhos que sejam.
Liberdade ... ideal supremo que seduz.
Elixir da juventude,
Para todos os que sonham.
Liberdade ... fantasia sem idade,
Que envolve os que a buscam.
E na liberdade que o coração,
Ávido de aventuras, constrói o amor.
 E nela que chora as desventuras,
Ou compõe em suas fibras um louvor.
 Coração em festa, ou coração partido,
 Gozo ou amargura, abatido pela dor,
 Às vezes tomado pela ternura,
Na liberdade tudo faz sentido, é o amor.
 O sofrer na desilusão
Na dura dor dos abandonos,
E nos doces encontros, a ternura,
 Da liberdade, dois gomos ..
Mas para meu corpo envelhecido,
 Em que perdura um jovem coração,
 Não poderá haver  uma cura,
 Que o livre da triste escravidão ..
 Meu pobre coração sonhador,
Que nas agruras sobreviveu,
Não consegue apagar as arranhuras,
Que o tempo, implacável, escreveu.
Encarcerado na prisão do tempo,
 Que a estrutura do corpo fez ceder,
 Reage, valente, contra essa moldura,
 Que envolve todo seu verdadeiro ser.
Pobre coração encarcerado,
De pura emoção a transbordar,
Quem te verá com a candura,
Que só a face jovem pode mostrar?
Liberdade ... tesouro da juventude.
J á não posso te possuir Mas posso te idealizar ...
Liberdade... que a juventude não sabe usar.
Tão poucos te conhecem, Mas eu posso te cantar.
Liberdade.... Que eu quisera reconquistar.
É prisioneiro o meu coração! Para sempre eu vou te amar!

                                    VIVER E  AMAR                                 

O  cortejo  chegou  ao  Campo Santo.
Ninguém  esperava  tanta  gente.
Afinal  era  apenas  o  João.
O João que  não  juntou fortuna;
O João  sem casa  própria;
O João que a mulher abandonou.
Era  apenas o enterro do João ninguém.
-Pobre  João!
-Lutou a vida  inteira!
-Nasceu pobre e morreu pobre!
Uma cova  rasa,
Um punhado  de flores,
E  aquela gente toda,
Que não  parava  de  chegar.
-Ave  Maria, cheia de  graça....
E todos  queriam  ver, pela  última vez,
O João.
 -Rogai por nós  pecadores...
No  rosto de  João,
Fazendo  duas ruguinhas nos cantos  da boca,
Havia  um sorriso  de  paz.
João  morreu  sorrindo.
-Agora e na hora  de  nossa morte...
Em  seu  último  pensamento,
Como  num  derradeiro  testamento,
Deixava  para  a  mulher que o  abandonara,
Amor  e   saudade.
Amor   que viveu  intensamente,
Quando tantos  nem aprenderam  a  amar;
Saudade  de  momentos felizes,
Que  muitos  só ouviram  falar.
Deixava  para  os  filhos,
Pobres  como  ele,
Os sonhos,  a fantasia e a esperança.
Os  sonhos,  pois  são  o   alimento  da  alma;
A fantasia,  forja  do caráter;
A  esperança, onde  tudo  pode  recomeçar.
Para  os amigos, deixava   a  lembrança.
Lembrança  do ombro amigo,
Do aperto  de mãos,
Dos sorrisos  e  das  gargalhadas,
Das   horas  de  aperto compartilhadas,
Dos  sofrimentos  e  das  lágrimas solidárias,
Dos  conselhos  dados  e  recebidos.
Deixava  para  o  mundo,
A certeza  de que  nada se  leva.
E  que  só  vale  a  vida  pelo  que se deixa.
Não as  riquezas,   que só  dividem;
Não  os  bens, que  serão  divididos;
Não  a  vaidade  e  beleza,
Que  ao pó voltarão.
Só o  bem,  que  supera  a morte;
Só o amor,  que permanecerá, quando  tudo  findar;
Só  a  lembrança  da  criança,
Que sobrevive, quando o  adulto morre.
Descansa em  paz, João  criança;
Descansa  em paz, João  esperança;
Descansa  em paz, João  pobre;
Descansa  em paz, rico João.  


Pedro Lodi
    O SABIÁ     

Era um domingo de sol, em plena Primavera. A luz dourada filtrava entre a folhagem das árvores, iluminando o mundo. Uma brisa fresca agitava levemente os galhos do arvoredo tornando ameno e repousante o calor. Flores de todas as matizes decoravam o jardim e enchiam o ar com seu perfume. O tom paradisíaco era completado por um lindo sabiá, que, emitindo trinados afinadíssimos, empuleirara-se no pé de ipê, como que se apresentando para uma platéia encantada.
A garagem se abriu e o carro, dirigido por um homem de meia idade, saiu, estacionando em frente à casa. Logo, abrindo a porta e correndo para fora, uma adolescente, de cerca de 15 anos, falou com o pai:
- Vamos rápido, não quero chegar tarde na praia.
Nesse instante, porém, o homem, que saíra de dentro do veículo, prestava atenção, emocionado, ao canto do sabiá. Colocando a mão no ombro de sua filha, disse:
- Espere um pouco. Ouça e veja. Haverá cena mais linda e recital mais harmonioso que este sabiá está nos proporcionando: E é somente para nós. Somos os únicos convidados. Vamos esperar um pouco, até que ele termine...
- È verdade, disse a filha. Que coisa mais linda.
E ali ficaram os dois, por cerca de 10 minutos, até que o sabiá, encerrando magistralmente o espetáculo, com um longo gorjeio, levantou vôo e foi embora.
Pai e filha, entusiasmados, aplaudiram o sabiá que se afastava.
- Agora podemos ir, filha. Vou aproveitar o que aconteceu aqui, para lhe contar uma história bastante interessante.
E enquanto dirigia o carro em direção à praia, foi narrando:
- Há muito tempo atrás, meu pai me contou a história de um outro sabiá, que foi enviado por um anjo, para orientar um homem nos caminhos de sua vida. Tal homem saiu de casa, bem cedo, para escalar uma montanha. A sua frente, em vôo rasante, ia um sabiá, que não parava de cantar. Irritado, o homem jogava para o ar, pequenos pedaços de galhos secos de árvores, não para machucar o pássaro, mas para o espantar. O sabiá voou rápido para um arbusto, mais a frente, onde o homem ia passar, e iniciou um recital de cânticos, semelhante ao que presenciamos em nosso jardim. Mas o personagem de nossa história não deu a mínima, e seguiu adiante. O sabiá, vendo que o homem não parava, começou a voar ao seu redor, sempre cantando, tentando chamar sua atenção. Num acesso de raiva o alpinista pegou uma pedra no chão e atingiu o pássaro que, rodopiando em círculos, caiu da montanha. E o nosso caminhante exclamou, enquanto seguia apressado:
- Pássaro ridículo! De forma alguma iria deixar que ele me atrasasse.
Quando chegou no alto da montanha, foi surpreendido por bandidos, que o roubaram e espancaram, enquanto comentavam entre si:
- Sorte a nossa. Se ele chegasse um pouco mais tarde, não estaríamos mais aqui.
Pai e filha continuaram conversando a respeito da história do sabiá e do anjo da guarda, quando tiveram que parar o carro, devido a um fato estranho: No meio da pista, uma enorme pedra que caíra de um caminhão, fechava a passagem, atraindo uma multidão de curiosos. Aproximaram-se do grupo a tempo de ouvir a história pela boca de alguém que presenciara o fato:
- Pois é, a suspensão da carreta cedeu, e a pedra escorregou pro meio da pista. Ainda bem que não havia nenhum carro atrás. Se não... E isso não tem mais que dez minutos.
Pai e filha se olharam, em silêncio, e resolveram, após um agradecimento ao seu anjo da guarda, voltar para o seu jardim em busca do sabiá. 

O ACERTO DE CONTAS


O sol estava a pino. Era hora do almoço. Sua esposa e seu filho de onze anos o esperavam na varanda do rancho. Havia sido uma manhã dura, com muita cerca para fazer e à tarde, muito novilho para marcar. Ele se considerava um homem feliz. Tinha uma linda mulher, um filho maravilhoso e um pouco de terra para cuidar.Foi recebido com um beijo carinhoso da mulher e um abraço apertado do filho.Quando já iam entrar em casa perceberam que três cavaleiros se aproximavam. Tornaram a descer os degraus da escada que os levariam para a varanda e ficaram aguardando os visitantes.Os três se aproximaram com um sorriso e, de repente, sacaram suas armas e dispararam contra a família. Como num pesadelo, recebeu o impacto da bala na cabeça, e enquanto caia, mergulhando na escuridão, ouvia os gritos de sua família, os estampidos e as gargalhadas dos assassinos.Lentamente seus olhos foram se abrindo.A consciência voltou e abruptamente se levantou, ignorando a dor e olhou à volta procurando sua mulher e filho. Um grito de dor ecoou de sua garganta ressequida, ante a cena com que se deparou: sua mulher, debruçada sobre o filho, como que tentando protege-lo, estava morta, assim como a criança, vítimas de corações diabólicos. A casa ardia em chamas, restando poucos cômodos em pé.Ignorando o fogo, entrou na casa, e abrindo uma pesada caixa, escondida sob uma escada, tirou um cinturão com dois revólveres. Saiu da casa apertando o cinturão sobre os quadris, pouco antes das paredes desabarem. Seus olhos eram duas bolas de fogo. Sua determinação não lhe permitia sentir a dor do ferimento na cabeça. Seu ódio e o desejo de vingar a família eram o único motivo de ainda estar vivo. Os grandes e únicos amores de sua vida estavam mortos; seus sonhos destruídos. Toda a sua existência se resumia, agora, em matar aqueles monstros. Depois....depois nada mais importava.Caminhou em direção ao curral, abriu a porteira, entrou e montando em pelo no seu cavalo, saiu de lá em louca cavalgada, em direção ao povoado...
Não sentiu o tempo passar. Era como se fosse um pesadelo, cheio de alucinações, onde só conseguia ver sua mulher e seu filho lhe estendendo a mão e gritando.Ao entrar na cidade, à distância, viu os cavalos dos bandidos, na porta do bar.Sem dar chance de seu cavalo parar, saltou e rapidamente dirigiu-se ao salão, abriu as portas em par, e com um olhar de leão faminto descobriu os bandidos, em uma mesa, bebendo .Sua aparência era terrível. Seus olhos faiscavam. Sua boca retorcida espumava, enquanto o sangue escorria de sua testa.Quando os homens sentados à mesa o viram, levantaram-se e a um só tempo levaram as mãos às armas.Encararam-se por alguns instantes, o bastante para os assassinos entenderem que não poderiam matar a quem já estava morto. Foi quando sua voz se fez ouvir, num rouco grito de ódio:
- Morram!
Suas armas se ergueram como num relâmpago, quando outra voz se fez ouvir:
- Corta, pessoal. Chega por hoje.A filmagem foi muito boa. Amanhã retomamos.
E logo o estúdio se esvaziou, voltando a reinar o silêncio.



ORAÇÃO DA ESPERANÇA

É noite alta.
A cidade dorme.
Aspirações nobres descansam
Ambições desmedidas repousam.
Em breve o dia vai nascer,
E os homens acordarão.
E com eles a ânsia desenfreada pelo poder,
Que tudo corrompe,
Mas também a saga dos aflitos,
Oprimidos pelo desamor.
O mundo agoniza na fome dos pobres,
Na dor das famílias sem teto,
No desalento dos doentes.
No clamor dos inocentes.
O fausto e o luxo dos insensatos,
Contrastam com a pobreza de um povo sofrido.
É um mundo de fome e de sede.
De falta de teto e abrigo;
De nudez e doença;
De sentenciados à marginalidade.
Corações endurecidos pelas paixões,
Almas embrutecidas pelas riquezas,
Não conseguem ver a indigência,
Não entendem o sofrimento alheio,
Enclausuram-se em seus domínios,
E esquecem que todos são irmãos.
Orações e súplicas sobem aos céus,
Gritos de revolta ecoam pelas favelas,
Lamentos e lágrimas buscam justiça.
Quem virá por esse povo?
Salvadores da pátria, sem pátria,
Falsos Messias, sem Deus,
Políticos sem alma,
Todos deixam uma esperança frustrada,
E o sabor amargo da decepção.
-Deus dos injustiçados,
Senhor dos humilhados,
Ouve nosso clamor,
Dá-nos a alegria de viver,
E confiança no amanhã!
Capacita-nos para a prática do bem;
Ensina-nos a mudar as estruturas;
Faz surgir entre nós líderes autênticos,
Voltados para o próximo,
Que não corrompam,
Nem sejam corrompidos;
Que não se envenenem com o poder,
Mas pratiquem a justiça.
Amém!

AGONIA DIVINA

Era madrugada.
Inquieto, revira-me na cama,
Tentando adormecer.
Foi quando me lembrei de meus filhos.
Eu os queria tanto perto de mim...
Pensamentos de angústia e medo,
Pressentimentos estranhos,
De que estivessem em perigo,
Invadiram minha mente.
Onde estariam, agora/
Estariam em perigo/
Uma sensação de medo,
Um tremor de frio
E um sentimento de impotência
Apossaram-se de mim.
-Meu Deus proteja meus filhos, exclamei.
Amargurado, ajoelhei-me aos pés da cama,
E orei com fervor e temor.
Logo depois tentei conciliar o sono,
Mas foi em vão.
Tornei a ajoelhar-me,
E rezei mais angustiado ainda.
Mais uma vez tentei dormir,
Mas a cama me queimava.
Pela terceira vez ajoelhei-me,
E pedi a Deus:
-Senhor, deixe-me escutar a sua resposta...
Aguardei, em vão, a resposta que não veio.
Voltei a rezar:
- Senhor, talvez queira apenas
Que eu fique aqui,
No silêncio da noite,
Fazendo-lhe companhia...
Eu farei isso,Senhor,
Mas vela por meus filhos...
A minha agonia, fez-me recordar
A muito tempo atrás, outra agonia.
Foi no Jardim do Getsemani,
Quando Cristo, por três vezes, clamou:
- Pai, se for possível,
Afasta de mim esse cálice.
Lembrei-me também, de que na Cruz,
Em suprema solidão, exclamou:
-Meu Deus, meu Deus,
Por que me abandonaste?
Só então, comparando minha agonia,
Com a agonia de Cristo,
Pude entender a sua dimensão.
Em minha noite de agonia,
Eu sofrera só por pressentimentos ruins,
De males que poderiam acontecer
Com meus filhos amados.
Em sua noite de agonias,
Cristo sofrera pelos males,
Que ocorriam com toda a humanidade.
O homem-perfeito que não conhecia o pecado,
Pelos pecados do mundo,
No Altar do Getsêmani,
Oferecia ao Pai,
No cálice da eterna Aliança,
Todos os sofrimentos,
Todos os crimes,
Todo o desamor dos homens, seus irmãos.
Pesava no cálice,
Os milhões de abortos
Que ceifam a vida de inocentes,
Antes mesmo de nascerem.
Suas mãos eram esmagadas,
Pelo sofrimento das crianças,
Vítimas da crueldade,
De mentes pervertidas,
E pais, depositários infiéis,
Do maior tesouro dos céus.
Sofria pelas vítimas...
Sofria pelos agressores...
Eram todos seus irmãos,
Filhos amados do Pai.
Seu coração era dilacerado
Pelos gritos de horror, nos campos de batalha;
Pelas cenas de morte e violência,
Nas ruas escuras das cidades,
Nos guetos, nas favelas,
E entre paredes frias de tantas casas.
Sofria pelos inocentes...
Sofria pelos culpados...
Todos irmãos... Todos filhos...
Tão amados...
Suava sangue de desespero,
Por jovens drogados,
Por pais alcoolizados,
Por filhas prostituídas
E por anciãos abandonados.
Se inquietava em agonia mortal,
Por mães, em noites de vigília,
Aguardando por filhos,
Vencidos pelo mundo,
Subjugados pelo desamor,
Que nem sempre haveriam de voltar.
Oferecia ao Pai,
Profundamente comovido,
O lamento de milhões de mães,
Que inconsoláveis vêem seus filhos,
Morrerem de inanição,
Em meio à fartura dos poderosos.
Compadecia-se por uns...
Se lamentava pelos outros...
Como não ama-los/
Todos filhos....
Todos irmãos...
“-Meus Deus, meu Deus,
Por que me abandonaste?
Como sofro por tantos irmãos que padecem...
Como me angustia tantos filhos que se perdem,
Por não terem compaixão.
Não quero perder
Nenhum dos que me confiaste.
Perdoa, Pai,
Não sabem o que fazem.”

Obrigado, Senhor,
Porque hoje pude entender sua agonia;
Porque ao me agoniar como pai,
Pude entender a agonia divina,
De um Deus que é Pai e Irmão.
Porque comparando minha pobre agonia
Com a sua agonia,
Pude entender a extensão do seu amor.
Obrigado pelo Jardim das Oliveiras..
Obrigado pelo Calvário..
Obrigado pela agonia do amor...
Pela Aliança Eterna
De um Deus que se fez homem,
Para elevar o homem à dignidade divina.


ALIENAÇÃO

Todos os dias eu o vejo no mesmo lugar, na mesma posição: cabelos compridos, amarrados atrás, jaqueta azul, olhando para o infinito, perfilado, batendo continência para um exército que desfila a sua frente, que somente ele vê. Por horas a fio mantém-se, altaneiro, a frente de seu exército imaginário. Dizem que foi militar, até endoidecer. Outros, que nasceu assim. Não se sabe se tem família, ou quem o mantém. Mas todo dia, à mesma hora, chova ou faça sol, lá está ele, perfilado ante seus soldados.
Que mundo é esse que o seduz? Em sua mente alienada, o que pensa ser? Um general vitorioso? Em seu devaneio existe uma mulher, filhos? Aguarda ansiosamente o momento de, liberto das obrigações marciais, voltar para o abraço da esposa e o afago dos filhos? Em que mundo vive em sua abstração?
Talvez viva num mundo parecido com o meu. Talvez tenha uma bela casa, um carro do ano; o seu trabalho de militar seja a sua vocação e talvez, como eu, esteja pretendendo passar as férias em Arraial do Cabo, na praia, com a família.
Fico pensando o quanto a minha vida é certinha: sou advogado, ganho razoavelmente bem, tenho filhos adoráveis, meus amigos me acham um cara legal, minha esposa me admira e ama... E enquanto estou tecendo esses pensamentos, olhando para o estranho personagem, em posição de sentido, noto, com o canto do olho, .duas pessoas passarem e me olharem com um sorriso de espanto. Viro-me para elas, rapidamente, mas já se foram cochichando. Fico intrigado. Afinal estou de pé, ao lado do meu Voyage, do ano, tenho boa apresentação, então por que riram?
De repente sinto um frio correr por minha espinha e um pensamento estranho tomar conta de mim: E se eu, como o militar, estou parado em uma praça, de terno, imaginando-me advogado em audiência vitoriosa, discursando para jurados imaginários, recebendo cumprimentos de magistrados e promotores e aplaudido pela mídia? E se tudo o que penso que sou não é apenas uma alienação total da realidade? Sou mesmo advogado? Tenho uma bela casa, esposa e filhos? Estou realmente parado ao lado de um belo carro do ano?
E você que me lê, neste instante... está lendo realmente ou está imaginando essa história?
Será que você também não está em uma praça, como o militar, ou quem sabe, como o advogado?
Mas, de qualquer forma, não vale a pena tal preocupação. Afinal, nós somos o que pensamos que somos. Em assim sendo, o alienado da praça é sem dúvida um general, eu sou um advogado e você, só mesmo você poderá dizer.


QUEM SOU EU?

É próprio do ser humano se interessar por coisas que estão fora de si. Como também é próprio se dedicar a tudo que é superficial, mas dá prazer. No primeiro caso podemos identificar a curiosidade em relação aos planetas, satélites e constelações. Milhões são gastos para se saber o que há no espaço exterior. No segundo caso se evidenciam o sexo e as drogas. O sexo é fonte de prazer, comércio, sonho, ideal, deixando sempre um vazio de verdadeiro amor, realização e paz. Da mesma ordem são as drogas que levam as pessoas a viver uma vida fora da realidade, terminando quase sempre em desolação e morte. Em ambos os casos o dinheiro é a mola propulsora.
As pessoas se debatem, em vão, buscando a realização e a felicidade em sonhos e quimeras, sem nunca encontrar, no entanto, o objetivo colimado. Isto porque procuram a felicidade num mundo exterior, que não consegue se relacionar com seu mundo interior.
O homem, com apenas 10% de sua capacidade racional, nunca procura saber o que lhe reservam os outros 90% escondidos no seu cérebro. Considera mais fácil viajar milhares de quilômetros espaço afora, em busca do insondável, que mergulhar dentro de si mesmo, para melhor se conhecer.
Que poder é esse que repousa oculto em nosso cérebro, e que tão poucos buscam?
A chave de todo o conhecimento não está sobre os nossos ombros?
Fortunas imensas são gastas em tantos ramos da ciência. O mesmo para frivolidades. E tão pouco
se investe na procura do próprio “eu”.
O mundo, dominado por paixões, investe na violência, no poder, no ter, na dominação, nas armas, nas drogas e no sexo animal. E o resultado são as guerras, o crime organizado, o tráfico, milhões de menores de rua, famílias em ruína, fome, degradação moral e genocídios.
Quem sou eu?
Sou resultado do sonho divino. Sou dono do maior e mais perfeito computador, que só poderia ser criado por Deus: Meu cérebro. Nasci do amor, para viver no amor e para gerar amor!
Que fiz de mim?
Uma caricatura, um boneco com uma pilha de 10% de capacidade mental, usada quase sempre para o mal.
Conhecer-se a si próprio é ir ao encontro da força criadora com que Deus nos dotou. É a criatura buscando o Criador no seu interior. E a medida que o conhecimento aumentar, não farão mais sentido para nós as futilidades, as paixões, o desamor e o mal.
Deus me fez com características únicas, diferente dos outros bilhões de seres humanos, para que eu entenda que sou obra rara. Quando eu morrer, nunca mais haverá alguém igual a mim.
Preciso, como autêntico pesquisador, descobrir em mim a raridade que eu sou. Preciso mergulhar fundo no meu interior, e descobrir riquezas maiores que as galáxias, mais valiosas que o mundo e mais sedutoras que as paixões carnais.
E a medida que fizer tais descobertas, colocá-las a serviço de meu semelhante, pois ele, sem dúvida, será o primeiro grande achado que farei em minha introspecção. 

ETERNA CRIANÇA

O ser humano se debate, em vão,
Buscando a sempre distante face de Deus.
Onde estás, Meu Deus,
Que não Te encontro?
É o clamor da criatura,
A procura do Criador.
Concebe-se um Deus Todo Poderoso,
Onisciente e sempre presente,
Sábio e Julgador,
Que tudo vê,
Que salva o justo,
E condena o pecador.
É esse Deus,
Que tem a idade do infinito,
Que pedirá contas, com severidade,
De toda palavra proferida,
Que se busca, ansiosamente.
E, perplexo, o homem constata
Que a distância não encurta,
Mas aumenta o abismo
Que o separa do Criador.
Pobre ser humano,
Que não vê a mão de Deus estendida,
Em sua direção.
Mas como ver, sem O conhecer?
Como reconhecer sem o entender?
Uma criança, de olhar tímido,
Com sorriso confiante,
Falando com meiguice e candura,
Tenta chamar sua atenção.
Fala de amor, de jardins e de flores;
Fala de paz, de perdão e reconciliação;
Ri gostosamente nas travessuras,
E o chama para conversar.
A criança se entristece, está só,
Pois o homem está muito ocupado,
Tentando construir o seu mundo,
E ainda buscando um Deus oculto.
A criança quer falar do sol, da lua,
E do céu estrelado;
O homem só fala das contas,
E de guardar para o futuro.
A criança quer estender a mão para todos,
Viver intensamente a vida;
O homem teme o homem,
Se fecha em seu castelo,
E não vê a vida passar.
As guerras explodem,
Os conflitos se sucedem,
Violência e morte avassalam o mundo.
A criança se entristece,
Chora a solidão,
Clama por carinho,
Mas não recebe o abraço esperado,
Não ouve palavras de amor,
E não acontece o encontro esperado.
E o homem/
Continua procurando Deus,
Sem se dar conta que nunca o perdeu,
Que esteve sempre bem perto.
E que o Deus adulto, de barbas longas,
Nunca existiu.
Que para Ele a eternidade é só um dia,
Que não há tempo, nem velhice.
E essa busca vai continuar,
Enquanto o ser humano não entender,
Que o Deus procurado e imaginado
Em nossa vã filosofia,
É apenas um Deus-Criança,
Que nunca saiu do seu lado.

O PROFESSOR

Haverá profissão mais bela que o magistério? È através do professor, desde o ensino fundamental até o superior, que são construídas as mentes mais brilhantes.

O aluno é entregue ao mestre como um diamante bruto, ainda sem valor.E o mestre, com zelo e competência burila o diamante, apara as arestas, desperta-lhe o brilho e o valor.

É o mestre quem desperta no aluno o prazer pela arte que ensina.

Às vezes, é o mestre quem faz o aluno perder o interesse por esta ou aquela matéria. Tudo depende de sua vocação para o magistério.

Lembro saudoso de três professores que passaram em minha vida, e que me despertaram o amor pelas Letras..

Foi lá no antigo Primário, hoje Ensino Fundamental, que a Professorinha Mariá, meiga, gentil e dedicada me despertou o amor pela Língua Portuguesa. Mostrou-me a beleza do idioma, iniciou-me na Literatura e apostou em mim.

No Ginásio conheci o Pe. José Quadras. Era professor, poeta e amante da Literatura. Foi ele quem me incentivou a escrever. Foi ele que me encorajava e fazia crescer meu amor pela Língua Pátria.

No Científico, foi a vez da Professora Mirian. Não só me incentivava, mas apresentava minhas redações a todas as suas turmas, dizendo que um dia teria o prazer de adquirir um “Best-Seller” de minha autoria.

Esses três Mestres foram base de todo o meu amor por nossa Língua e Literatura.

No Ensino Superior vieram outros, mas a bem da verdade, os primeiros foram insuperáveis.

Lembro-me, com tristeza de minha primeira professora de Matemática, de quem recordo bem o nome, mas me recuso a nomear, até mesmo por ética e respeito ao Magistério. Era um pavor para todos os alunos. Era alta, forte, de cabelos amarrados em rabo de cavalo, bigodinho ralo e um vozeirão ameaçador. Em minha mente de criança, matemática e professora de matemática eram uma só coisa. Daí o pavor que sempre tive pela matemática. Só muito tarde, pela necessidade de orientar meus filhos, pude redescobrir a matemática e ver quanto sofri em vão, como diz o poeta.

Ensinar é a arte mais sublime. Por mais valiosas e importantes que sejam as demais artes, todas provêem do Magistério. Não importa a grandeza do Político, Médico, Advogado ou cientista. Todos passaram pela Professorinha do Primário, e pelos demais Mestres do Ensino. Nada seriam sem eles.

Aos Mestres, com carinho, a minha gratidão e a de todos aqueles que se reconhecem, mesmo recobertos de glória, como discípulos.

Afinal não é digno do Mestre o aluno que não o supera.

BREVE TEMPO

O sol surge como um disco de fogo,
Radiante, espalhando vida e calor.
Ergue-se, lentamente, majestoso,

Nascido para governar, ser eterno.
Seus raios de luz, que ao amanhecer,
São benfazejos e dadivosos,
Transformam-se, aos poucos, dolorosamente,
Em dardos em brasa, que queimam e sufocam.
Ao final do dia, já não oferecem vida ou perigo.
À noite, simplesmente desaparecem,
Sobrevindo as trevas,
Cuja única fonte de claridade,
É a de corpos sem vida,
Que refletem a luz,
Recebida no dia que findou.

Assim é o homem!

No amanhecer da vida,
Surge, belo e radiante,
Espargindo esperança e sonhos,
Como se fosse eterno.
No homem-criança se cristalizam as virtudes,
A graça e a alegria de um mundo novo,
Que irradiam amor, paz e paraíso.
Como o sol se ergue no céu,
O homem se ergue na terra.
E, aos poucos, o tépido calor
Se transforma em fogo que consome;
A luz que ilumina, em farol que cega;
E a brisa que acalenta, em vento causticante.
À tarde, quando a noite se aproxima,
O calor esfria, a esperança emudece,
A alegria se acanha,
O sonho se desfaz,
O infinito se torna finito,
E a vida se esvai.
Resta a escuridão de uma vida,
Que não tinha luz própria,
Que era apenas o reflexo de um sol maior.
Restam corpos sem vida,
E sonhos soltos pela eternidade,
Buscando a fonte suprema,
Que não queima, nem se extingue.

10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. oi Pedro
    Gostei dos seus artigos. Vou esperar pelos proximos e difundir seu blog entre os amigo

    Lu.

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  3. Ph
    Seu blog e incrivel espero proximas postagens

    Claudia

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  4. Lodi:
    É bom que alguém escreva sobre temas tão importantes:
    Sobre Literatura: Entendi que o corpo envelhece mas a alma fica sempre jovem.
    Sobre Política: Ética, moral e família comm base sólida estão faltando nos políticos.
    Sobre Religião: Seria bom que o Clero refletisse mais sobre o assunto.
    Paulo

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  5. Dr. Pedro:
    Passe aqui pelo seu blog e fiquei interessada pelos temas Literatura e Religião.Gostaria de ver publicado um texto escrito por você, do qual não lembro o título,mas que no final,
    é citada a frase de Cristo:" As portas do inferno não prevalecerão"
    Quanto mais, meus parabens pelo Blog,coloque-o como um hobby e como informativo nos temas que você escolheu.
    Gleice

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  6. oI, PEDRO:
    Gostei muito. Parabéns. Vou esperar próximas matérias.

    Maria Lúcia

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  7. Olá Pai !! gostei muito do blog. Parabéns !!!! Finalmente o Sr. vai poder saciar nossos anceios por esclarecimentos a cerca dos temas pré-estabelecidos, de forma eficiente e globalizada, com seus dons especiais que Deus lhe deu, nós agradecemos.
    Sugestão: Se puder abordar um tema em especial sobre Religião seria muito bom - Porque a Igreja Católica é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo ?

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  8. Olá Sr Lodi!!

    Parabéns por alimentar o espírito de todos nós Cristãos com seus conhecimentos na palavra de Deus.

    Todos os artigos são excepcionais.

    Fica na Paz!!

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  9. Ah Gostei muuuuuuuito!!!

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  10. Já pensou em transformar o Blog num Site?
    Dirceu

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